Experiência fundante é a que nasce de uma profunda vivência espiritual, mística, de Deus, de seu amor.
Experiência em que Deus enche até o fundo nossa afetividade: Deus é tudo.
É uma experiência de paz e alegria. Uma experiência que está na origem dos carismas dos fundadores, ao menos ao nível pessoal deles. As tarefas, as missões, as ocupações, a entrega aos outros, tudo flui desta experiência-base.
É a experiência de quem diz como Santa Teresa: "Solo Dios basta!" É a experiência daquela menina que, depois de deixar os encantamentos da vida que sua condição financeira permitia, se aproxima da mestra e diz: "Fala-me de Deus!".
Não há missão que possa substituir essa experiência fundante na vida religiosa. Parece que esse tipo de vocacionados procedem mais do mundo urbano, freqüentemente ligados aos movimentos de espiritualidade, de ambientes religiosos não tradicionais. Tendo feito essa experiência fundante, o jovem procura alguma congregação em que possa viver isso sempre mais profundamente. Tem uma tendência acentuada de valorizar o litúrgico, o celebrativo. Em palavras simples: são devotos, rezadores e querem viver "longe" das coisas do mundo. Em geral, ao ingressarem, têm uma imagem muito idealizada da vida religiosa. Pensam no "convento" como o lugar das pessoas "santas e felizes", "anjos" vivendo na terra. Depois de algum tempo, entram em choque com a realidade. Aqueles religiosos não são santos de nenhuma forma. São "fingidos, falsos, não vivem a caridade, são acomodados...". A imagem idealizada transforma-se em profunda decepção: não são santos, mas uns "demônios". Nesse período, muitos desistem e se afastam amargurados, freqüentemente espalhando uma imagem muito negativa da vida religiosa.
Os que conseguem superar, no entanto, aos poucos vão se dando conta que os religiosos não são nem "anjos", nem "demônios", mas pessoas humanas com sua ambigüidades, buscando, entretanto, cada um a seu jeito, um caminho para Deus.
Nesse período, o papel do formador pode ser decisivo. É importante muito diálogo com o formando, por dois motivos básicos:
Primeiro, para ajudá-lo a pôr os pés no chão.
Sua experiência de Deus é algo muito bonito e precisa ser cultivada com toda a atenção. No entanto, esse cultivo não pode se limitar ao litúrgico, celebrativo, íntimo. Essa experiência, para adquirir marca de autenticidade, necessita expressar-se no serviço aos irmãos, na comunidade, e ao Povo de Deus, principalmente com os pobres, marginalizados, doentes... Não basta o contato com aquela comunidade carismática de onde ele procede. Sem essa passagem para o concreto, como fizeram os santos, visível principalmente entre os fundadores, a primeira experiência de Deus vai se esvaziar e morrer. O formador deve estar atento, até para não se deixar "encantar" pela postura devota do formando. Algumas vezes, inclusive, essa atitude pode esconder situações de personalidade que necessitam de urgente discernimento e cura.
Outras vezes, em certos ambientes, tem-se criado confusão entre o processo de conversão e o vocacional. Um jovem faz uma experiência calorosa de conversão e pede para ser religioso. Depois de algum tempo constata que não é essa a sua vocação. Confundiu a alegria da conversão com o chamado vocacional. Faltou alguém que o ajudasse a discernir. Isso pode ser muito prejudicial para ele e para toda a comunidade.
Em segundo lugar, o formador precisa ajudar o formando a fazer uma virada urgente: da "comunidade para mim" ao "eu para a comunidade", isto é, de uma postura autocêntrica para uma postura heterocêntrica, voltada para fora (evito intencionalmente as palavras "egoísmo" e "altruísmo", porque o problema não é fundamentalmente ético, e sim formativo, de orientação, compreensão e vivência). É doloroso, isto sim, encontram-se religiosos que, depois de anos de vida consagrada, vivem egocentricamente. Aqui se trata de uma questão ética, de egoísmo mesmo.
DAL MORO, Frei Sérgio M. (OFMCap). Com o coração e inteligência - Formação para a Vida Consagrada. 2006. pg. 55-57.
Experiência em que Deus enche até o fundo nossa afetividade: Deus é tudo.
É uma experiência de paz e alegria. Uma experiência que está na origem dos carismas dos fundadores, ao menos ao nível pessoal deles. As tarefas, as missões, as ocupações, a entrega aos outros, tudo flui desta experiência-base.
É a experiência de quem diz como Santa Teresa: "Solo Dios basta!" É a experiência daquela menina que, depois de deixar os encantamentos da vida que sua condição financeira permitia, se aproxima da mestra e diz: "Fala-me de Deus!".
Não há missão que possa substituir essa experiência fundante na vida religiosa. Parece que esse tipo de vocacionados procedem mais do mundo urbano, freqüentemente ligados aos movimentos de espiritualidade, de ambientes religiosos não tradicionais. Tendo feito essa experiência fundante, o jovem procura alguma congregação em que possa viver isso sempre mais profundamente. Tem uma tendência acentuada de valorizar o litúrgico, o celebrativo. Em palavras simples: são devotos, rezadores e querem viver "longe" das coisas do mundo. Em geral, ao ingressarem, têm uma imagem muito idealizada da vida religiosa. Pensam no "convento" como o lugar das pessoas "santas e felizes", "anjos" vivendo na terra. Depois de algum tempo, entram em choque com a realidade. Aqueles religiosos não são santos de nenhuma forma. São "fingidos, falsos, não vivem a caridade, são acomodados...". A imagem idealizada transforma-se em profunda decepção: não são santos, mas uns "demônios". Nesse período, muitos desistem e se afastam amargurados, freqüentemente espalhando uma imagem muito negativa da vida religiosa.
Os que conseguem superar, no entanto, aos poucos vão se dando conta que os religiosos não são nem "anjos", nem "demônios", mas pessoas humanas com sua ambigüidades, buscando, entretanto, cada um a seu jeito, um caminho para Deus.
Nesse período, o papel do formador pode ser decisivo. É importante muito diálogo com o formando, por dois motivos básicos:
Primeiro, para ajudá-lo a pôr os pés no chão.
Sua experiência de Deus é algo muito bonito e precisa ser cultivada com toda a atenção. No entanto, esse cultivo não pode se limitar ao litúrgico, celebrativo, íntimo. Essa experiência, para adquirir marca de autenticidade, necessita expressar-se no serviço aos irmãos, na comunidade, e ao Povo de Deus, principalmente com os pobres, marginalizados, doentes... Não basta o contato com aquela comunidade carismática de onde ele procede. Sem essa passagem para o concreto, como fizeram os santos, visível principalmente entre os fundadores, a primeira experiência de Deus vai se esvaziar e morrer. O formador deve estar atento, até para não se deixar "encantar" pela postura devota do formando. Algumas vezes, inclusive, essa atitude pode esconder situações de personalidade que necessitam de urgente discernimento e cura.
Outras vezes, em certos ambientes, tem-se criado confusão entre o processo de conversão e o vocacional. Um jovem faz uma experiência calorosa de conversão e pede para ser religioso. Depois de algum tempo constata que não é essa a sua vocação. Confundiu a alegria da conversão com o chamado vocacional. Faltou alguém que o ajudasse a discernir. Isso pode ser muito prejudicial para ele e para toda a comunidade.
Em segundo lugar, o formador precisa ajudar o formando a fazer uma virada urgente: da "comunidade para mim" ao "eu para a comunidade", isto é, de uma postura autocêntrica para uma postura heterocêntrica, voltada para fora (evito intencionalmente as palavras "egoísmo" e "altruísmo", porque o problema não é fundamentalmente ético, e sim formativo, de orientação, compreensão e vivência). É doloroso, isto sim, encontram-se religiosos que, depois de anos de vida consagrada, vivem egocentricamente. Aqui se trata de uma questão ética, de egoísmo mesmo.
DAL MORO, Frei Sérgio M. (OFMCap). Com o coração e inteligência - Formação para a Vida Consagrada. 2006. pg. 55-57.
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