"Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz"
São Francisco de Assis

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terça-feira, 17 de setembro de 2024

800 anos dos Estigmas de São Francisco de Assis Estigmas de São Francisco de Assis 1224 -2024


 Eis o oitavo centenário da estigmatização de São Francisco de Assis. Para começarmos a entender a importância e o significado desse evento, recorramos inicialmente às descrições biográficas do fato para entendermos primeiramente O QUE se deu, também com algumas informações de COMO se deu o ocorrido. Os relatos são vários, dos mais poéticos aos mais objetivos e decidi transcrever aqui o de frei Juliano de Espira, frade alemão contemporâneo à morte de São Francisco (1226 d.C.). 

Os devotos interessados num aprofundamento, podem recorrer também aos relatos de Tomás de Celano (1Cel 94-95; 3Cel 4), de São Boaventura (LM XIII; Lm VI) ou dos Três Companheiros (LTC 69) e fazer, inclusive, comparações entre as diversas linguagens, gêneros literários e subjetividades de cada autor.


De uma beleza comovente também são os Fioretti que fazem cinco considerações sobre os sagrados estigmas!

Voltando à nossa estratégia:
Dois anos antes de o santo homem entregar o feliz espírito ao Senhor, enquanto morava no eremitério do Alverne, teve uma visão como de um Serafim que tinha seis asas, suspenso no ar, pregado numa cruz, com as mãos estendidas e os pés unidos. Trazia duas asas sobre a cabeça, duas estendidas para voar; as outras duas cobriam todo o corpo.
O santo ficou vivamente espantado com a visão e alternava sentimentos de medo e de alegria. Alegrava-se pela admirável beleza daquela figura; aterrorizava-o demais a horrenda fixação à cruz. Mas se alegrava também, porque ele o olhava com benevolência.

Enquanto refletia longamente e com ânsia sobre o significado dessa singular visão, não conseguiu compreender claramente nada, até que viu em si mesmo aquele milagre gloriosíssimo; um milagre, repito, que, no meu entender, é inaudito em todos os séculos passados.

De fato, nas suas mãos e pés apareceram as aberturas dos cravos e o seu lado direito como que traspassado pela lança. Na parte interior das mãos e na parte superior dos pés sobressaía uma espécie de crescimento da carne como se fosse a cabeça dos pregos. A parte exterior das mãos e a inferior dos pés, porém, traziam sinais alongados, como de pontas retorcidas dos cravos e que também excediam da carne restante. No lado direito, enfim, apareceu uma ferida circundada de uma cicatriz que, com frequência, sangrava e manchava a túnica e às vezes também a roupa de baixo.
Depois que tais pérolas apareceram nele, o homem de Deus fez de tudo para esconder aos olhos dos vivos o precioso tesouro com que o Senhor, por especial prerrogativa, o havia enriquecido; e isso para que não viesse a sofrer o mínimo dano, se alguém de sua intimidade o viesse a saber. (Jul 61,1-62,5)

Estamos em 1224, dois anos antes da morte de Francisco e décimo oitavo ano de sua “vida religiosa”. Notável observar que “era já um homem de consumada virtude e, todavia, julgava estar apenas começando” (Jul 59, 4). Mesmo tendo cultivado uma espiritualidade tão madura e sendo já tão íntimo de Deus, encontrava-se, na ocasião da impressão das Chagas, em retiro na gruta do Monte Alverne, realizando a quaresma costumeira em honra do Arcando Miguel (segundo São Boaventura). Daí já podemos aprender que sempre é tempo de investirmos na intimidade com Deus, sempre é tempo de retirar-se, recolher-se, silenciar-se para robustecer a relação pessoal com Deus, lançando mão sabiamente das práticas ascéticas ensinadas pela tradição. É bom lembrar que os evangelistas também narram o hábito do próprio Filho de Deus em recolher-se para orar, buscando a solidão do deserto ou da montanha para entender a vontade do Pai e tomar as decisões mais importantes de sua missão.

Momentos de recolhimento são necessários, apesar de não suficientes, para que o Senhor se dê a conhecer a nós de forma mais íntima. E lá no Monte Alverne, Francisco foi agraciado com uma experiência mística. Apareceu-lhe a visão de um Serafim (como descrito por Isaías em Is 6, 2) com a imagem de um homem pregado na cruz. Frei Celso Márcio Teixeira (2019) nos lembra que essa imagem é carregada de uma paradoxalidade significativa, pois ao mesmo tempo que o serafim, de admirável beleza, é sinal da glória de Deus, também aparece crucificado, ou seja, carregado de dor, sofrimento e horror da cruz. A mensagem, portanto, é a de que a glória de Deus Pai manifesta-se de maneira plena no Cristo Crucificado. E Francisco, como homem de acuradíssima sensibilidade, não permanece inerte diante dessa mensagem. 
De fato, sentia uma mistura de emoções enquanto contemplava a visão: alegria e êxtase pela beleza do que via, junto ao terror, medo e dor compassiva que a crucificação lhe causava. Francisco sempre compreendeu a íntima relação existente entre dor e amor, como os dois polos de um ímã. Sempre entendeu a Paixão de Cristo como a dor de um amor infinito. Mas a compreensão desse aparente antagonismo tem nos escapado. A completa aversão à Cruz e a tentativa de criar um paraíso terrestre ou pavimentar um caminho largo que nos dê somente o vislumbre da Glória resulta forçosamente em desilusão, como já nos alertava frei Constantino Koser há 50 anos, no 750º aniversário da Impressão das Chagas. À medida que se envelhece, vamos percebendo que os momentos de dor que ferem a nossa história são exatamente os responsáveis por nos transformar e aumentar a nossa capacidade de compreender e de amar. A dor lancinante do parto que gera vida e gera um amor tão divino descortina-se como um exemplo prático dessa dualidade dor-amor tão difícil de assimilar à sociedade dos analgésicos. 
Temos, então, mais uma lição de Francisco: amar o Amor que não é amado. Amar até doer, pois a dor aumenta ainda mais a nossa capacidade de amar! Desistir de encontrar um monopolo magnético e assumir a Cruz como caminho para a Glória! Enfrentar o Calvário para fruir do que foi vislumbrado no Tabor, afinal, “toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”, como já cantava Renato Russo.

Por fim, cessado o êxtase da visão, apareceram-lhe os sinais da crucificação que antes havia visto no Serafim. Aparecia na carne de Francisco os sinais que ele já trazia há tanto tempo no coração. Se exteriorizava o amor pela Paixão que já se enraizara tão profundamente na vida e na alma do Santo de Assis. O amante torna-se imagem do Amado, como nos diz São Boaventura, marcado por obra do próprio Deus, não como imagem esculpida em pedras ou madeira por algum artesão. A impressão das Chagas de Cristo em Francisco torna-se como que o selo de uma conformação com Cristo que foi construída pelo Pobrezinho de Assis durante toda a vida. Assemelhado a Jesus na pobreza, na obediência, na castidade e nos principais atos de sua vida, agora assemelha-se também fisicamente, partilhando com Jesus os sofrimentos e dores da Crucificação, da maneira como sempre quis e pediu a Deus. Diante disso, podemos avaliar a nossa própria disposição em nos assemelharmos a Cristo, a fim de merecermos, de fato, o nome de “cristãos”

Segue-se, portanto, a terceira lição: buscarmos a estrita semelhança com Jesus, “amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu”, já nos sinalizava Padre Zezinho. E se acharmos demais recebermos os sinais da crucificação, como Francisco, ou nos parecer aversivo demais aproximarmo-nos de Jesus na Cruz, podemos começar nos aproximando dos crucificados dos nossos tempos. Ao acolher o leproso, Francisco começa seu processo de abraçar a Cruz, transformando, como ele mesmo nos diz, o amargor em doçura. Fica a nós o convite para essa mesma transformação interior. Marginalizados não faltam aos nossos tempos, crucificados não nos faltam, apesar de não mais usarmos a cruz de madeira. Agora, crucificamos de outros modos.

E depois de tudo isso, frei Francisco de Assis, mesmo sentindo-se tão agraciado por Deus, não deixou de ser humilde. Fez o que pôde para esconder os sinais magníficos que tinha recebido do Pai, porque não queria de maneira alguma colher louvores para si. E mesmo debilitado pelas dores desses estigmas, somadas às inúmeras enfermidades que já lhe acometiam o corpo, não quis deixar de pregar, de conviver com seus irmãos e de publicar as maravilhas do Altíssimo e Glorioso Deus. 

Uma última lição: humildade e serviço. Dois imperativos na vida de Francisco que não foram deixados para trás nem pela debilidade física, nem pela certeza de que recebia os favores de Deus.
Podemos encerrar colocando em prática os conselhos de frei Tomás de Celano (1Cel 114) que nos convida a nos assemelharmos ao Serafim de seis asas, como Francisco o fez. Que tenhamos duas asas sobre a cabeça a fim termos sempre intenção pura e reto modo de operar em toda boa obra, esforçando-nos para agradar unicamente a Deus. Duas asas para voar, dedicando-nos à dupla caridade para com o próximo, quais sejam, o cuidado com as almas, levando-lhes a Palavra de Deus, e o cuidado com o corpo, auxiliando-lhes materialmente. E, por fim, duas asas cobrindo o corpo a fim de zelarmos pelo Espírito Santo que habita em nós e nos inspira sempre a voltarmo-nos a Deus. Velando esses três aspectos (mente, corpo e os irmãos e irmãs), podemos, então, iniciar uma caminhada de conversão, a exemplo de Francisco, e irmos nos configurando a Jesus Cristo, Senhor e Rei da História, Príncipe da Paz e Deus-conosco. E configurados a Cristo, poderemos com a mesma serenidade de Francisco, acolher a irmã morte, que não nos fará mal, mas nos deixará mais próximos do Amor.
Frei Carlos Antônio Sartin Júnior, OFM
Paz e bem!

Referências
FONTES FRANCISCANAS E CLARIANAS (FFC). Apresentação Sergio M. DAL MORO. Tradução Celso Márcio Teixeira… (et al.) Petrópolis: Vozes, 2004.


Impressão das Chagas de São Francisco de Assis











Neste dia 17 de setembro, a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da Impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. A introdução litúrgica da Missa e Liturgia das Horas diz o seguinte:

“O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Frades Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse, no grau de festa, a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.”

A vida de Francisco no Alverne é oração e ininterrupta penitência. Sente-se pobre e pecador. Quer despojar-se de tudo. Renuncia até mesmo a um manto que tinha sido salvo do fogo, a única coisa que tinha para cobrir-se durante o breve repouso da noite. Francisco voltará muitas vezes ao Alverne para encontrar a paz em Deus que a situação da Ordem e o fato de estar no meio dos homens não lhe davam e entregar-se de corpo e alma à oração.

No verão de 1224, última vez que esteve no Alverne, Francisco procura um lugar ainda mais “solitário e secreto” no qual possa mais reservadamente fazer a quaresma de São Miguel Arcanjo. Na manhã de 14 de setembro de 1224, os céus se abrem e Cristo crucificado desce ao Monte Alverne na forma de um serafim.


Frei Regis explica o sentido e o significado:

Mais do que desvendar o caráter histórico das Chagas de São Francisco, importa refletir sobre a experiência de vida que se esconde sobre este fato. O que significa a expressão de Celano “levava a cruz enraizada em seu coração”? O que isso significou para o próprio Francisco? Há um significado para nós hoje, naquilo que com ele ocorreu?

Um erro comum é o de ver São Francisco como uma figura acabada, pronta, sem olhar para a caminhada que ele fez até chegar à semelhança perfeita (configuração) com o Cristo. O que ocorreu no Monte Alverne é o cume de toda uma vida, de uma busca incessante de Francisco em “seguir as pegadas de Jesus Cristo”. Francisco lançou-se numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a inteligência e o amor. As chagas significam que Deus é Senhor de sua vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.

O segundo significado das chagas é o de que Deus não é alienação para o ser humano, ao contrário, é sua plena realização e salvação. Colocando-se como centro da própria vida é que o homem se aliena e se destrói; torna-se absurdo para si mesmo no fechamento do seu ‘ego’. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria consistência e o sentido de sua existência em Deus. E Francisco fez esta descoberta: Jesus Cristo foi crucificado em razão de seu amor pela humanidade – “amou-os até o fim” – , e ele percorre este mesmo caminho.

O terceiro significado: as chagas expressam que a vivência concreta do amor deixa marcas. A exemplo de Cristo, Francisco quis suportar/carregar e amar os irmãos para além do bem e do mal (amor incondicional). Essa atitude o levou a respeitar e acolher o ‘negativo’ dos outros mantendo a fraternidade apesar das divisões. Esse acolher e integrar o negativo da vida é a única forma de vencer o ‘diabólico’, rompendo com o farisaísmo e a autossuficiência, aniquilando o mal na própria carne. Só assim, o homem é de fato livre, porque não apenas suporta, mas ama e abraça o negativo que está em si e nos outros.

O quarto significado: seguir o Cristo implica em morrer um pouco a cada dia: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Não vivemos num mundo que queremos, mas naquele que nos é imposto. Não fazemos tudo o que desejamos, mas aquilo que é possível e permitido. Somos chamados a viver alegremente mesmo com aquilo que nos incomoda, vencendo-se a si mesmo e integrando o ‘negativo’, de modo que ele seja superado. Nós seremos nós mesmos na mesma medida em que formos capazes de assumir nossa cruz. As chagas de São Francisco são as chagas de Cristo, e elas nos desafiam: ninguém pode conservar-se neutro, sem resposta diante da vida.

São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus, assemelhou-se e configurou-se com Ele. Este seu modo de viver está expresso na “perfeita alegria”, tema central da espiritualidade franciscana: “Acima de todos os dons e graças do Espírito Santo, está o de vencer-se a si mesmo, porque dos todos outros dons não podemos nos gloriar, mas na cruz da tribulação de cada sofrimento nós podemos nos gloriar porque isso é nosso”.
O testemunho das fontes franciscanas
Dos “Fioretti” – Terceira consideração dos Sacrossantos Estigmas

“Um dia, no princípio de sua conversão, ele rezava na solidão e, arrebatado por seu fervor, estava totalmente absorto em Deus e lhe apareceu o Cristo Crucificado. Com esta visão, sua alma se comoveu e a lembrança da Paixão de Cristo penetrou nele tão profundamente que, a partir deste momento, era-lhe quase impossível reprimir o pranto e suspiros quando começava a pensar no Crucificado”. 

E rezava:

“Ó Senhor, meu Jesus Cristo, duas graças eu te peço que me faças, antes de eu morrer: a primeira é que, em vida, eu sinta na alma e no corpo, tanto quanto possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua dolorosa Paixão. A segunda, é que eu sinta, no meu coração, tanto quanto for possível, aquele excessivo amor, do qual tu, filho de Deus, estavas inflamado, para voluntariamente suportar uma tal Paixão por nós pecadores”.
Da Legenda Menor de São Boaventura, Capítulo 6

“Francisco era um fiel servidor de Cristo. Dois anos antes de sua morte, havendo iniciado um retiro de Quaresma em honra de São Miguel num monte muito alto chamado Alverne, sentiu com maior abundância do que nunca a suavidade da contemplação celeste. Transportado até Deus num fogo de amor seráfico, e transformado por uma profunda compaixão n’Aquele que, em seus extremos de amor, quis ser crucificado, orava certa manhã numa das partes do monte.

Aproximava-se a festa da Exaltação da Santa Cruz, quando ele viu descer do alto do céu, um serafim de seis asas flamejantes, o qual, num rápido voo, chegou perto do lugar onde estava o homem de Deus. O personagem apareceu-lhe não apenas munido de asas, mas também crucificado, mãos e pés estendidos e atados a uma cruz. Duas asas elevaram-se por cima de sua cabeça, duas outras estavam abertas para o voo, e as duas últimas cobriam-lhe o corpo.

Tal aparição deixou Francisco mergulhado num profundo êxtase, enquanto em sua alma se mesclavam a tristeza e a alegria: uma alegria transbordante ao contemplar a Cristo que se lhe manifestava de uma maneira tão milagrosa e familiar, mas ao mesmo tempo uma dor imensa, pois a visão da cruz transpassava sua alma como uma espada de dor e de compaixão.

Aquele que assim externamente aparecia o iluminava também internamente. Francisco compreendeu então que os sofrimentos da paixão de modo algum podem atingir um serafim que é um espírito imortal. Mas essa visão lhe fora concedida para lhe ensinar que não era o martírio do corpo, mas o amor a incendiar sua alma que deveria transformá-lo, tornando-o semelhante a Jesus crucificado.

Após uma conversação familiar, que nunca foi revelada aos outros, desapareceu aquela visão, deixando-lhe o coração inflamado de um ardor seráfico e imprimindo-lhe na carne a semelhança externa com o Crucificado, como a marca de um sinete deixado na cera que o calor do fogo faz derreter.

Logo começaram a aparecer em suas mãos e pés as marcas dos cravos. Via-se a cabeça desses cravos na palma da mão e no dorso dos pés; a ponta saía do outro lado. O lado direito estava marcado com uma chaga vermelha, feita por lança; da ferida corria abundante sangue. Frequentemente, molhando as roupas internas e a túnica. Fui informado disso por pessoas que viram os estigmas com os próprios olhos.

Os irmãos encarregados de lavar suas roupas, constataram com toda segurança que o servo de Deus trazia, em seu lado bem como nas mãos e pés, a marca real de sua semelhança com o Crucificado”.
Tomás de Celano – Vida II, 211

“Francisco já tinha morrido para o mundo, mas Cristo estava vivo nele. As delícias do mundo eram uma cruz para ele, porque levava a cruz enraizada em seu coração. Por isso fulgiam exteriormente em sua carne os estigmas, cuja raiz tinha penetrado profundamente em seu coração”.

Outros textos: 1Cel, 94; Legenda Maior, 13,35,69.


Que milagre é este?

Frei Hipólito Martendal

Há vários santos entre os católicos que apareceram portando estigmas, semelhantes às chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ultimamente parece que tivemos até um caso raro de um homem de Deus trazer por certo tempo as chagas e depois elas virem a desaparecer. Dizem que isto teria acontecido com o capuchinho de nossos dias, o Pe. Pio, agora São Pio.

Por outro lado, estamos por demais acostumados com a ideia de milagres como eventos extraordinários, operados instantaneamente, ou pelo menos, em tempo relativamente breve, onde as coisas acontecem de tal maneira que só podem ser atribuídas a alguma intervenção divina.

De minha parte, acredito que verdadeiros milagres podem ocorrer sem todos estes atributos considerados seus sinais inconfundíveis. Posso imaginar verdadeiros milagres sendo gerados aos poucos, lentamente, com recurso às forças naturais, mas que nunca poderiam acontecer somente apela atuação destas forças.

No caso de São Francisco, por exemplo, as descrições de seus biógrafos são espetaculares. O Santo, durante uma quaresma que celebrou em honra de São Miguel Arcanjo, na véspera, ou no dia da festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), mergulhado em profunda meditação sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, tem uma visão deveras impressionante. Cristo lhe aparece como um homem crucificado, mas portando três pares de asas de Serafim. Francisco é arrebatado por um êxtase total. Aos poucos, sem ele sentir, as chagas de Jesus criam forma e implantam-se em seus membros e lado. Tomás de Celano, São Boaventura e o autor dos Fioretti descrevem-nas, bem como seu formato, a cor e a aparência dos cravos, em tudo de maneira muito semelhante.
O primeiro santo das chagas

Há algumas particularidades muito interessantes no caso de São Francisco. Ele é o primeiro homem na História a aparecer chagado. As descrições são concordes ao destacar o tamanho das feridas (eram grandes), estruturas semelhantes a cravos, com sangramentos intermitentes, principalmente na ferida do lado.

Outra característica muito forte em São Francisco era o destaque que dava à humanidade de Jesus. O último Natal, antes das Chagas, ele o celebrara em Greccio, quando pedira a um amigo que montasse a cena de Belém o mais semelhante possível ao que ele concebera, em sua imaginação poética, pois, dizia: “Quero lembrar a criança que nasceu em Belém e ver com meus olhos carnais as dificuldades de sua infância pobre, como ele dormiu na manjedoura e como, entre o boi e o burro, deitaram-no sobre o feno”. (São Francisco de Assis de Jacques Lê Goff, p.88).

Na quaresma em que foi agraciado com os sagrados estigmas, o assunto de meditações e contemplações fora a Paixão do Senhor. Por outro lado, quando se tratava de virtudes relacionadas à renúncia, à minoridade, à pobreza, ao servir, Francisco fazia questão de ser sempre o primeiro em tudo. O mesmo acontecia no desejo de imitar Nosso Senhor, no que se refere à pobreza e ao sofrimento. Queria ser o primeiro entre todos que desejasse viver como o Divino Mestre vivera. Além do mais, São Francisco era do tipo sensitivo, muito intuitivo, dado a sonhos e visões freqüentes, coisas que ele interpretava realisticamente como repostas divinas à sua incessante procura de Deus e da perfeição.

Agora vamos ao essencial que desejo oferecer à meditação do leitor. Em nossos dias, os estudos que procuram as conexões entre o que é mental e o que é corporal, entre o espiritual e o material, progrediram muito e têm descoberto coisas realmente interessantes. Os estudiosos afirmam que cerca de 80% dos transtornos físicos que incomodam o ser humano são de origem psíquica. Um desejo muito forte, uma emoção avassaladora, uma necessidade premente podem converter-se em sintomas físicos e doenças.

Dias atrás lia o caso de uma mulher que sofria de dores de cabeça lancinantes e contínuas e para a qual um batalhão dos melhores médicos não encontrava qualquer causa orgânica que explicasse. Só sabiam que depois de muitos anos de sofrimentos na companhia de um marido alcoólico e muito violento, conseguira a separação. Ele ameaçara suicidar-se, caso ela não voltasse. Ela não voltara e ele dera um tiro na própria cabeça!


Cópia perfeita de Cristo

Ora, fomos condicionados a ver somatizações só em doenças. E por que o fenômeno não poderia ocorrer como resposta sadia a desejos e emoções elevados e santos? Eu imagino que no caso de São Francisco tenha ocorrido exatamente tal fenômeno. Ele tinha uma capacidade rara de exprimir fisicamente seus estados de alma. Declamava, cantava, dançava, e encenava as alegrias mais espirituais. Vertia abundantes lágrimas de tristeza ao contemplar os sofrimentos de nosso Divino Mestre, ou simplesmente por pensar que “o Amor não é amado”. Estava firmemente disposto a não sofrer menos que sofrera seu Mestre e Senhor. Nos últimos anos de vida tivera ainda que contatar a realidade decepcionante de ver seus frades envolvidos em graves divisões e querelas por causa de seus próprios ideais de pobreza e minoridade, coisas que ele considerava revelações divinas e inquestionáveis. Isto constituía seu calvário que o aproximava ainda mais de Cristo.

Então, o milagre se deu, não por uma intervenção direta e violenta do sobrenatural em seu corpo, mas por um mimetismo divino, por uma somatização de seus desejos santos de ser como o Divino Mestre a quem ele queria copiar. E a cópia foi tão perfeita, que seus contemporâneos registraram para as gerações futuras que “São Francisco é outro Cristo”.

“O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é seu nome! A minha alma engrandece o Senhor. E exulta meu espirito em Deus, meu Salvador”

Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil



sábado, 6 de abril de 2024

Papa: a exemplo de São Francisco, sejamos fraternos e portadores da misericórdia



Por ocasião do oitavo centenário do dom dos estigmas, recebido por São Francisco de Assis em 1224, o Pontífice recebeu em audiência, nesta sexta-feira (05), os Frades Menores do Santuário de La Verna e da Província toscana. O Papa refletiu sobre o significado dos sinais que recordam a dor sofrida por Jesus "para a nossa salvação".
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O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira, 05 de abril, no Vaticano, os Frades Menores provenientes da Província da região italiana da Toscana e do Santuário de La Verna, local onde São Francisco de Assis recebeu os estigmas. Esta audiência com o Santo Padre marca as celebrações do oitavo centenário do dom dos estigmas, que São Francisco recebeu em 14 de setembro de 1224, dois anos antes de sua morte.
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Em seu discurso, o Papa iniciou expressando sua gratidão pela presença da relíquia do sangue de São Francisco que os franciscanos levaram, e ressaltou a importância deste símbolo da conformação ao "Cristo pobre e crucificado". E ao falar especificamente sobre os estigmas, o Papa destacou sua relevância como um dos sinais mais eloquentes concedidos pelo Senhor ao longo dos séculos:
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  • “Os estigmas nos recordam a dor sofrida por nosso amor e salvação por Jesus em sua carne; mas são também um sinal da vitória pascal.”

Os estigmas da atualidade


De acordo com o Papa, a exemplo do santo de Assis, todo cristão é chamado a ir ao encontro dos "estigmatizados" pelas dores da vida:

"Um discípulo de Jesus encontra no estigmatizado São Francisco um espelho de sua identidade. É por isso que o cristão é chamado a se dirigir de maneira especial aos "estigmatizados" que encontra: os "marcados" pela vida, que carregam as cicatrizes do sofrimento e da injustiça sofrida ou dos erros cometidos. E, nessa missão, o Santo de La Verna é um companheiro de viagem, apoiando-os e ajudando-os a não se deixarem esmagar pelas dificuldades, pelos medos e pelas contradições, próprias e alheias. Se você quiser conhecer bem o Cristo sofredor, procure um franciscano."

A unidade franciscana
Francisco ressaltou a importância da unidade presente no carisma dos Frades Menores, e sublinhou que este também é um chamado de Cristo Crucificado para a missão que lhes foi confiada:

"Seu Santo Fundador lhes oferece um poderoso lembrete para que façam a unidade em si mesmos e em sua história. De fato, o Crucifixo que lhe aparece em La Verna, marcando seu corpo, é o mesmo que foi impresso em seu coração no início de sua "conversão" e que lhe havia indicado a missão de "reparar sua Igreja".

O perdão de Deus

O Pontífice destacou também o aspecto do perdão como um importante ponto no percurso da reparação da Igreja, e elogiou a reputação dos franciscanos como bons confessores, incentivando-os a seguirem perseverantes no sacramento da reconciliação:

  • “Vocês são bons confessores: os franciscanos têm fama disso. Perdoem tudo. Perdoem sempre. Deus não se cansa de perdoar: nós é que nos cansamos de pedir perdão.”
Retornar ao essencial
Por fim, o Santo Padre afirmou que, em São Francisco, um homem pacificado no sinal da cruz, com o qual abençoou seus irmãos, os estigmas representam o selo do essencial:

"Isso vos convoca também a retornar ao essencial em diversos aspectos de vossas vidas: nos cursos de formação, nas atividades apostólicas e na interação com o povo; a serdes perdoados, a serdes portadores do perdão, a serdes curados, a serdes portadores da cura, a serdes alegres e simples na fraternidade; com a força do amor que emana do lado de Cristo e se nutre do encontro pessoal com Ele, a serdes renovados todos os dias com um ardor seráfico que inflama o coração."

Oração a São Francisco de Assis

O Papa, ao concluir, invocou a graça da conversão contínua e benéfica aos religiosos franciscanos, e confiou-lhes uma oração em honra ao Seráfico Pai, São Francisco de Assis:

"São Francisco,
homem ferido de amor, crucificado no corpo e no espírito,
nós olhamos para ti, adornado com os sagrados estigmas,
para aprender a amar o Senhor Jesus,
nossos irmãos e irmãs com teu amor, com tua paixão.
Contigo é mais fácil contemplar e seguir
o Cristo pobre e crucificado.
Concede-nos, Francisco,
o frescor da tua fé,
a certeza da tua esperança,
a doçura da tua caridade.
Intercede por nós
para que seja doce para nós carregar os fardos da vida
Intercede por nós para que seja doce também
suportar nas provações e experimentar
a ternura do Pai e o bálsamo do Espírito.
Que nossas feridas sejam curadas no Coração de Cristo,
para que possamos nos tornar, como ti, testemunhas da misericórdia,
que continua a curar e a renovar a vida
de quem o busca com um coração sincero.
Ó Francisco, semelhante ao Crucificado,
faz com que seus estigmas sejam para nós e para o mundo
sinais luminosos de vida e ressurreição
que indiquem novos caminhos de paz e reconciliação. Amém"





domingo, 17 de setembro de 2023

17 DE SETEMBRO CELEBRAMOS OS ESTIGMAS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

 


“A VISITA DO AMOR QUE TANTO BUSCOU”

SALVE OH FRANCISCO!
A festa dos Estigmas de São Francisco, mais que um grande milagre, recorda a sua própria trajetória de vida e vocação. Francisco é o homem da cruz, pois fez dela o seu caminho e meta. A sua busca em viver o Evangelho fez de sua existência uma identificação com o próprio Crucificado. Francisco é o “Servo crucificado do Senhor Crucificado” (1Cel 95,5).
O chamado de Francisco a uma vida de penitência acontece em dois momentos cruciais, o primeiro é o encontro com o leproso. Esse encontra neles a pessoa de Cristo Crucificado (cf LM 1,6,2). Ao afirmar em seu Testamento que “Aquilo que me parecia amargo, converteu- se em doçura da alma e do corpo” (Test 2). Francisco não vence apenas a repulsa, mas se compadece e ama, pois consegue ver nas feridas abertas e fétidas, as chagas do próprio Senhor Crucificado.
O segundo momento que caracteriza o início da vida de penitencia é o encontro com o crucifixo de São Damião. Esse encontro também é muito significativo, pois além de apontar a missão do jovem de Assis, de “reconstruir a Igreja”, acentua o amor ao mistério da Paixão, pois “desde aquela hora seu coração tornou-se tão vulnerado e comovido, lembrando a paixão do Senhor, que sempre, enquanto viveu, trouxe os estigmas do Senhor Jesus em seu coração” (LTC 14,1).
Desse modo, a comemoração da impressão das chagas de Francisco quer trazer à memória toda a amplitude existencial desse santo epocal. A cruz de São Damião e o beijo no leproso tornam-se sinais prefigurativos do Serafim Alado.
O jovem de Assis “sempre, enquanto viveu, levou em seu coração os estigmas do Senhor Jesus” (LTC 14,1). Por isso, o caminho de Francisco rumo ao leproso e à Igreja de São Damião se tornam o mesmo caminho ao Monte Alverne, onde recebeu os estigmas. Isso leva a crer que a experiência da cruz se faz parte fundante da experiência mística da vida do poverello. Contudo, no Alverne se dá a experiência mais radical do Amor de Deus, que se entrega de forma gratuita e total.
Dois anos antes de sua morte, encontrando-se numa fase de grande angústia e turbulência, Francisco vai ao monte Alverne para fazer a quaresma de São Miguel. Além da doença física, Francisco experimenta a tristeza de ver a Ordem se desvirtuar daquilo que intuiu ser a inspiração originária da verdadeira pobreza evangélica para si e seus irmãos, que livremente vieram abraçar esse estilo de vida.
Assim como o Cristo, também Francisco sobe o monte calvário. O servo faz a experiência do Senhor dos Passos, sente a angústia, o medo e a solidão. E é no profundo vazio do abandono que Francisco é visitado pelo Senhor através de um Serafim Alado. A experiência da solidão, o mergulho no nada, a ânsia de se completarem entre si, tornam-se as condições de possibilidade para o verdadeiro encontro do Amor divino e misericordioso para com a humanidade do pobre servo.
Esse encontro se dá como uma resposta de Deus àquele a quem tanto procurou manter-se no Senhor e sentir em seu corpo o amor e a dor de Cristo na Cruz. Por muitas vezes e de forma incansável o pobrezinho de Assis, recolhia-se em lugares solitários, florestas, montes e grutas. Sempre mantinha o contato íntimo com seu Senhor, “orando sem cessar, esforçava-se em manter o espírito na presença de Deus” ( LM 10,1,1) e na contemplação do madeiro sagrado, pois “sempre trazia a Paixão de Cristo em seus olhos” (cf 2 Cel 11,6). No Alverne, diante do Serafim, Francisco não mais busca, mas se deixa encontrar, não mais o contempla, mas experimenta em sua carne a Paixão do Crucificado.
Todo o esforço e diligência no seguimento de Jesus crucificado foram impressos em seu corpo. Tudo aquilo que estava interiorizado em sua vida, palavras e ações se converteram em sinais visíveis. Assim deixa de ser um seguidor de Jesus para se tornar um outro Cristo! A alegria de ser enviado pelo Crucifixo de São Damião, com a missão de restaurar a Igreja, converte-se em perfeição, que de tanto perfazer-se, completou a obra começada. E do mesmo modo, aquele primeiro beijo no leproso torna-se, no Alverne, o ósculo da acolhida no mistério do amor infinito de Deus.
Enfim, segundo as Considerações dos Estigmas, essa experiência crucial na vida de Francisco o fazia sentir alegria e dor. E, mais do que a confusão de sentimentos, os estigmas imprime em Francisco a certeza de que Aquele a quem havia seguido, amado e servido nunca o havia abandonado e agora tornava-se plena identificação: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus.” (Fl 2,5)

Equipe de Comunicação


sábado, 17 de setembro de 2022

FESTA DA IMPRESSÃO DAS CHAGAS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS.

 


Impressão das Chagas de São Francisco de Assis

 Neste dia 17 de setembro, a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da Impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. A introdução litúrgica da Missa e Liturgia das Horas diz o seguinte:

“O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Frades Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse, no grau de festa, a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.”

A vida de Francisco no Alverne é oração e ininterrupta  penitência. Sente-se pobre e pecador. Quer despojar-se de tudo. Renuncia até mesmo a um manto que tinha sido salvo do fogo, a única coisa que tinha para cobrir-se durante o breve repouso da noite. Francisco voltará muitas vezes ao Alverne para encontrar a paz em Deus que a situação da Ordem e o fato de estar no meio dos homens não lhe davam e entregar-se de corpo e alma à oração.

No verão de 1224, última vez que esteve no Alverne, Francisco procura um lugar ainda mais “solitário e secreto” no qual possa mais reservadamente fazer a quaresma de São Miguel Arcanjo. Na manhã de 17 de setembro de 1224, os céus se abrem e Cristo crucificado desce ao Monte Alverne na forma de um serafim.

Frei Regis explica o sentido e o significado:

Mais do que desvendar o caráter histórico das Chagas de São Francisco, importa refletir sobre a experiência de vida que se esconde sobre este fato. O que significa a expressão de Celano “levava a cruz enraizada em seu coração”? O que isso significou para o próprio Francisco? Há um significado para nós hoje, naquilo que com ele ocorreu?

Um erro comum é o de ver São Francisco como uma figura acabada, pronta, sem olhar para a caminhada que ele fez até chegar à semelhança perfeita (configuração) com o Cristo. O que ocorreu no Monte Alverne é o cume de toda uma vida, de uma busca incessante de Francisco em “seguir as pegadas de Jesus Cristo”. Francisco lançou-se numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a inteligência e o amor. As chagas significam que Deus é Senhor de sua vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.

O segundo significado das chagas é o de que Deus não é alienação para o ser humano, ao contrário, é sua plena realização e salvação. Colocando-se como centro da própria vida é que o homem se aliena e se destrói; torna-se absurdo para si mesmo no fechamento do seu ‘ego’. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria consistência e o sentido de sua existência em Deus. E Francisco fez esta descoberta: Jesus Cristo foi crucificado em razão de seu amor pela humanidade – “amou-os até o fim” – , e ele percorre este mesmo caminho.

O terceiro significado: as chagas expressam que a vivência concreta do amor deixa marcas. A exemplo de Cristo, Francisco quis suportar/carregar e amar os irmãos para além do bem e do mal (amor incondicional). Essa atitude o levou a respeitar e acolher o ‘negativo’ dos outros mantendo a fraternidade apesar das divisões. Esse acolher e integrar o negativo da vida é a única forma de vencer o ‘diabólico’, rompendo com o farisaísmo e a autossuficiência, aniquilando o mal na própria carne. Só assim, o homem é de fato livre, porque não apenas suporta, mas ama e abraça o negativo que está em si e nos outros.

O quarto significado: seguir o Cristo implica em morrer um pouco a cada dia: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9,23). Não vivemos num mundo que queremos, mas naquele que nos é imposto. Não fazemos tudo o que desejamos, mas aquilo que é possível e permitido. Somos chamados a viver alegremente mesmo com aquilo que nos incomoda, vencendo-se a si mesmo e integrando o ‘negativo’, de modo que ele seja superado. Nós seremos nós mesmos na mesma medida em que formos capazes de assumir nossa cruz. As chagas de São Francisco são as chagas de Cristo, e elas nos desafiam: ninguém pode conservar-se neutro, sem resposta diante da vida.

São Francisco não contentou-se em unicamente seguir o Cristo. No seu encantamento com a pessoa do Filho de Deus, assemelhou-se e configurou-se com Ele. Este seu modo de viver está expresso na “perfeita alegria”, tema central da espiritualidade franciscana: “Acima de todos os dons e graças do Espírito Santo, está o de vencer-se a si mesmo, porque dos todos outros dons não podemos nos gloriar, mas na cruz da tribulação de cada sofrimento nós podemos nos gloriar porque isso é nosso”.

Texto: https://franciscanos.org.br

Veja mais sobre esse tema Neste Especial



sábado, 17 de setembro de 2016

17 DE SETEMBRO ESTIGMATIZAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS



Frei Fidêncio Vanboemmel, nosso Ministro Provincial, fala sobre a festa da Estigmatização de São Francisco de Assis, celebrada no dia 17 de setembro.
Saiba mais sobre esta importante festa franciscana.
Paz e Bem!

www.franciscanos.org.br