“A VISITA DO AMOR QUE TANTO BUSCOU”
SALVE OH FRANCISCO!
A festa dos Estigmas de São Francisco, mais que um grande milagre, recorda a sua própria trajetória de vida e vocação. Francisco é o homem da cruz, pois fez dela o seu caminho e meta. A sua busca em viver o Evangelho fez de sua existência uma identificação com o próprio Crucificado. Francisco é o “Servo crucificado do Senhor Crucificado” (1Cel 95,5).
O chamado de Francisco a uma vida de penitência acontece em dois momentos cruciais, o primeiro é o encontro com o leproso. Esse encontra neles a pessoa de Cristo Crucificado (cf LM 1,6,2). Ao afirmar em seu Testamento que “Aquilo que me parecia amargo, converteu- se em doçura da alma e do corpo” (Test 2). Francisco não vence apenas a repulsa, mas se compadece e ama, pois consegue ver nas feridas abertas e fétidas, as chagas do próprio Senhor Crucificado.
O segundo momento que caracteriza o início da vida de penitencia é o encontro com o crucifixo de São Damião. Esse encontro também é muito significativo, pois além de apontar a missão do jovem de Assis, de “reconstruir a Igreja”, acentua o amor ao mistério da Paixão, pois “desde aquela hora seu coração tornou-se tão vulnerado e comovido, lembrando a paixão do Senhor, que sempre, enquanto viveu, trouxe os estigmas do Senhor Jesus em seu coração” (LTC 14,1).
Desse modo, a comemoração da impressão das chagas de Francisco quer trazer à memória toda a amplitude existencial desse santo epocal. A cruz de São Damião e o beijo no leproso tornam-se sinais prefigurativos do Serafim Alado.
O jovem de Assis “sempre, enquanto viveu, levou em seu coração os estigmas do Senhor Jesus” (LTC 14,1). Por isso, o caminho de Francisco rumo ao leproso e à Igreja de São Damião se tornam o mesmo caminho ao Monte Alverne, onde recebeu os estigmas. Isso leva a crer que a experiência da cruz se faz parte fundante da experiência mística da vida do poverello. Contudo, no Alverne se dá a experiência mais radical do Amor de Deus, que se entrega de forma gratuita e total.
Dois anos antes de sua morte, encontrando-se numa fase de grande angústia e turbulência, Francisco vai ao monte Alverne para fazer a quaresma de São Miguel. Além da doença física, Francisco experimenta a tristeza de ver a Ordem se desvirtuar daquilo que intuiu ser a inspiração originária da verdadeira pobreza evangélica para si e seus irmãos, que livremente vieram abraçar esse estilo de vida.
Assim como o Cristo, também Francisco sobe o monte calvário. O servo faz a experiência do Senhor dos Passos, sente a angústia, o medo e a solidão. E é no profundo vazio do abandono que Francisco é visitado pelo Senhor através de um Serafim Alado. A experiência da solidão, o mergulho no nada, a ânsia de se completarem entre si, tornam-se as condições de possibilidade para o verdadeiro encontro do Amor divino e misericordioso para com a humanidade do pobre servo.
Esse encontro se dá como uma resposta de Deus àquele a quem tanto procurou manter-se no Senhor e sentir em seu corpo o amor e a dor de Cristo na Cruz. Por muitas vezes e de forma incansável o pobrezinho de Assis, recolhia-se em lugares solitários, florestas, montes e grutas. Sempre mantinha o contato íntimo com seu Senhor, “orando sem cessar, esforçava-se em manter o espírito na presença de Deus” ( LM 10,1,1) e na contemplação do madeiro sagrado, pois “sempre trazia a Paixão de Cristo em seus olhos” (cf 2 Cel 11,6). No Alverne, diante do Serafim, Francisco não mais busca, mas se deixa encontrar, não mais o contempla, mas experimenta em sua carne a Paixão do Crucificado.
Todo o esforço e diligência no seguimento de Jesus crucificado foram impressos em seu corpo. Tudo aquilo que estava interiorizado em sua vida, palavras e ações se converteram em sinais visíveis. Assim deixa de ser um seguidor de Jesus para se tornar um outro Cristo! A alegria de ser enviado pelo Crucifixo de São Damião, com a missão de restaurar a Igreja, converte-se em perfeição, que de tanto perfazer-se, completou a obra começada. E do mesmo modo, aquele primeiro beijo no leproso torna-se, no Alverne, o ósculo da acolhida no mistério do amor infinito de Deus.
Enfim, segundo as Considerações dos Estigmas, essa experiência crucial na vida de Francisco o fazia sentir alegria e dor. E, mais do que a confusão de sentimentos, os estigmas imprime em Francisco a certeza de que Aquele a quem havia seguido, amado e servido nunca o havia abandonado e agora tornava-se plena identificação: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus.” (Fl 2,5)
Equipe de Comunicação
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