"Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz"
São Francisco de Assis

sábado, 30 de julho de 2011

A INFÂNCIA DE CLARA

Sempre servindo-nos do texto Chiara di Assisi. Um silenzio qui grida, de Chiara Giovanna Cremaschi (Ed. Porziuncola, Assisi) continuamos a refletir sobre a história de Clara. Hoje nos detemos nos primeiros anos de vida da santa.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Ao chegar ao mundo, Clara foi acolhida com todo afeto por sua família. Certamente Ortolana, a mãe, haveria de tomar a peito a educação da menina. O pai aparece pouco presente em seu caminho e em sua história, o que não exclui contacto com a filha quando de sua presença em casa, entre uma e outra de suas viagens. Podemos imaginar que Ortolana tenha ensinado a Clara os fundamentos da fé cristã, iniciando-a na oração com métodos adaptados à sua idade. Celano lembra que Clara , não dispondo de contas para repassar os Pai-nossos, usava um monte de pedrinhas para contar suas pequenas orações ao Senhor (LSC 4).

2. Ortolana ( como todas as mães e todos os pais cristãos) transmite a fé pela vida. É todo o ser do catequista que é digno de credibilidade. Há um clima educacional e “catequético” que se cria por pessoas que sabem amar os educandos e os filhos e que têm o costume de se aquecer com os raios do amor de Deus. Ortolana é uma pessoa humanamente madura. Clara se sente respeitosamente amada pela mãe. Assim foi crescendo interiormente. Na casa paterna haveria Clara de encontrar um terreno propício para o desenvolvimento de suas características pessoais adultas: firmeza de vontade acompanhada de grande doçura, senso positivo diante da vida, gratidão pelos benefícios recebidos da parte de Deus, abandono filial nos braços do Pai que é terno como uma mãe. Estamos convencidos de que as mães ( e os pais) precisam ser os primeiros e fundamentais catequistas dos filhos e estes necessitam crescer num espaço de acolhimento-amor. A feminilidade que a filha de Favarone haverá de manifestar de modo tão refinado tem na mãe sua raiz e exemplo. Acrescente-se ainda que a capacidade de criar união entre as irmãs de São Damião foi possível porque teve o seu primeiro germe nos relacionamentos cordiais e respeitosos vividos com a mãe e as irmãs, bem como com mulheres que freqüentavam a casa da Praça de São Rufino.

3. As Fontes dão a entender que, nos primeiros anos de vida, Clara já se interessa pelos pobres. Essa atenção pelos mais necessitados também aprendeu de sua mãe que, com simplicidade e sem ostentação se ocupava desses que necessitavam. A descoberta da indigência de tantos faz com que Clara coloque gestos bem concretos. Não se limita a socorrer os pobres com a abundância de sua casa, com o supérfluo. Priva-se de alimentos delicados. Novamente Celano: “Para que o seu sacrifício fosse mais agradável a Deus privava seu próprio corpinho dos alimentos mais delicados enviando-os às ocultas por intermediários, reanimava o estômago de seus protegidos” (n.3).

4. Depois Clara receberá outros elementos de sua família para sua formação. Não se tem muitos elementos para descrever os estudos feitos pela menina e mocinha. Como adulta mostrará um bom conhecimento do latim. Com inteligência intuitiva apreende a realidade e a reelabora intuitivamente. “Parece que podemos afirmar que Clara é formada no estilo clássico de escrever, através do qual o vassalo se dirige ao seu senhor que está acima dele, porque não pode permitir-se errar no tom, vocábulos, atitudes em relacionamento tão delicado. Muito provável ainda que a primogênita dos Favarone tenha aprendido a literatura cortês, apreciada pelo seu tempo. Tem ela um temperamento ardente, tipicamente mediterrâneo, levado a decisões radicais, sem meias medidas. É límpida e sincera. Assumindo uma linha de comportamento, persegue-a a todo custo, sem se deixar abater. Clara é, por natureza, alegre, levada sempre a ver o lado bom das situações, dos acontecimentos e das pessoas. Fundamentalmente tem grande confiança na capacidade presente em todas as criaturas humanas no sentido de realizar a plenitude do que se propõe” ( p. 24-25).

5. Durante a infância Clara veio a experimentar na própria pessoa as conseqüências da luta entre os nobres e a burguesia. Devido aos conflitos entre e uns e outros, o tio Monaldo optou pelo exílio e leva toda a família para Perugia onde permanecerão alguns anos. Ali a primogênita dos Favarone cresce ao lado da irmã menor Catarina, experimentando a vida numa cidade diferente daquela em que nascera, tanto pela posição geográfica quanto pela arquitetura, hábitos e costumes de seus cidadãos. Dilata-se o círculos dos relacionamentos, sobretudo graças à mãe que cria à sua volta uma rede de amizades com mulheres de sua classe social. Delas as filhas aprendem a arte di diálogo, o acolhimento do outro e um certo estilo de convivência feminina. Pode-se dizer que Clara não ressentiu negativamente a mudança de cidade, não perdendo o sentido positivo diante das coisas da vida e a atitude de acolhimento das pessoas.

6. Antes do retorno para Assis que deve ter se dado quando Clara tinha dezessete anos, ou logo depois, vem à luz a última filha dos Favarone, Beatriz. Nada podemos dizer dos sentimentos que suscitaram a chegada desta irmã na primogênita, agora já adulta. Depois vem a idade da adolescência.

Um comentário:

CORREIO DA PAZ ® disse...

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